A comunidade Bitcoin está passando por um momento importante com a iminente realização de um soft fork. Essa mudança visa evitar a fragmentação da rede, um problema que gerou bastante preocupação entre desenvolvedores, mineradores e operadores de nós. Após meses de discussões acaloradas, dois engenheiros estão propondo o BIP-447, que busca proteger o Bitcoin de abusos no uso do espaço dos blocos.
A proposta, apresentada no dia 4 de outubro, inclui ajustes que alteram o custo de certas transações sem comprometer a compatibilidade com versões anteriores do protocolo. O foco é manter a unidade da rede enquanto se trabalha para reduzir a carga sobre os nós e o consumo de banda. Esse movimento é fundamental para garantir a integridade do Bitcoin contra fragmentações e censuras.
Como O Soft Fork Pode Ajudar o Bitcoin
Nos últimos meses, a comunidade enfrentou o que alguns chamaram de “guerra de clientes”. Isso começou quando desenvolvedores começaram a usar o comando OP_RETURN para incluir dados, como textos e imagens, diretamente nos blocos. Embora essa prática tenha surgido como inofensiva, acabou sobrecarregando a rede, levando a um uso impróprio da blockchain.
Para lidar com esse problema, um desenvolvedor chamado Luke Dashjr implementou um filtro no cliente Bitcoin Knots, bloqueando transações que utilizavam essas inscrições. Contudo, essa ação teve consequências negativas, centralizando o controle em grandes pools de mineração. Já os usuários começaram a enviar transações diretamente para esses grupos, contornando a rede descentralizada.
Além disso, o Bitcoin Core v30, que será lançado em breve, considerou remover os limites do OP_RETURN, o que poderia abrir espaço para conteúdos ilegais. Diante desse cenário, o BIP-447 surge como uma solução que procura equilibrar liberdade e responsabilidade, evitando divisões na rede.
Como Funciona o BIP-447
A proposta do BIP-447 é baseada em três pilares principais que visam reduzir os impactos negativos das inscrições na rede. O primeiro deles é um aumento significativo nas taxas para transações complexas que usam OP_RETURN. Aumentando quadruplicar o custo atual, isso tornaria tais operações financeiramente inviáveis para abusos.
O segundo pilar adota o conceito de User Activated Soft Fork (UASF). Isso permite que os operadores de nós ativem novas regras de forma independente, sem precisar de consenso entre os desenvolvedores centrais. Essa abordagem fortalece a descentralização do Bitcoin, prevenindo que decisões políticas interfiram nas questões técnicas.
O terceiro pilar introduz a tecnologia SegData, inspirada no SegWit. Essa inovação permite um armazenamento mais eficiente de partes não essenciais das transações, aliviando o peso dos blocos e reduzindo os custos de hardware. Isso também protege legalmente os operadores, diminuindo o risco de armazenar conteúdos irregulares.
Impactos Econômicos e Técnicos
As mudanças esperadas com o BIP-447 são abrangentes. Transações comuns continuarão a custar pouco, aproximadamente 2.800 satoshis. Em contraste, as inscrições pesadas, que antes ocupavam 1 MB, podem passar a custar cerca de 20 milhões de satoshis, o que equivale a aproximadamente US$ 20 mil. Essa diferença de custo é um desincentivo direto para quem tentaria usar a blockchain como um espaço de armazenamento.
Os autores do BIP-447 estimam que o número de inscrições de 1 MB por bloco cairá 75%, reduzindo de quatro para apenas uma. As inscrições de 100 KB também devem apresentar uma diminuição significativa, passando de 40 para 10. Essa limpeza na rede deve resultar em um ambiente de transações mais eficiente e sustentável.
Além disso, a proposta promete reduzir a carga sobre a rede e o consumo de banda, permitindo que dispositivos com menos capacidade ainda participem da validação de transações. Essa é uma movimentação que traz mais leveza e agilidade ao Bitcoin, sempre com o olhar no futuro.
